quinta-feira, 3 de julho de 2008

O professor de antigamente... decepção!

Hoje tive duas decepções, talvez as maiores de minha carreira como professor.
Dia de avaliação, estava eu dando as orientações de como seria, de repente um aluno que falava o tempo todo sai da sala sem minha permissão como se não tivesse ninguém ali, e como se estivessem sem nada pra fazer. Eu fui até a porta e disse a ele que nem precisava voltar, mas ele voltou e eu o coloquei para fora da sala, afinal não havia condições dele continuar a prova, pois ela era individual e sem consulta. Segundos depois a coordenadora aparece em minha sala trazendo o aluno, dizendo que a diretora ordenou que ele entrasse. Eu imediatamente disse a ela que não teria como ele voltar para a sala justamente pelo fato de ser prova e afinal ele tem que aprender a se portar diante de uma prova, pois como enfrentará um vestibular daqui dois anos? A coordenadora pediu que eu fosse falar com a diretora, e eu fui.
Ao chegar à sala da diretora ela, muito indelicada, usando o mesmo tom de voz que usa para dar bronca nos alunos disse-me: - O que aconteceu professor? Eu expliquei, e logo em seguida ela disse em alto e bom som: - Professor, lugar de aluno é na sala de aula, coloque ele em um cantinho da sala, ele não precisa fazer nada, mas o mantenha lá! Eu indignado, não somente pelo fato dela ter tirado a minha autoridade, mas, sobretudo pelo fato de uma diretora de escola pensar desta forma:
“(...) ele não precisa fazer nada, mas o mantenha lá!”
Com isso voltamos à estaca zero, tratando aluno feito números, este aluno, por exemplo, é um número, está apenas esquentando cadeira, tomando lugar de alguém que quer estudar e se sacrifica estudando em uma escola longe de casa. Com isso também ela me tira a autoridade do ser “educador” voltando assim a ser o “professor” de antigamente, ou seja, aquele que ensina conteúdo apenas.
Sinceramente, as raras vezes que mandei algum aluno pra fora da sala, mandei com dor no coração, porém, sei que isso tem grandes chances de regenerar esse aluno, pois é um reforço negativo, ou seja, toda vez que ele sentir vontade de sair da sala ele não vai sair porque sabe quem tem que ter permissão para isso, além do que pode servir como exemplo para os outros alunos. Isso é EDUCAR!
Com licença, por favor, obrigado, são cobrados por mim diariamente na sala de aula, é preciso dar a educação que eles não tiveram em casa, prepara-los para o mundo. É claro que é um desperdício de tempo, mas se não fizermos, quem fará? Como vamos formar seres humanos se não resgatarmos estes conceitos de ética, moral e educação?
Vendo pela ótica racional, nestas horas também não há o que fazer, é melhor perder um aluno que além de não querer estudar, ainda atrapalha os colegas, do que perder vários outros que são iludidos por ele.
Por fim, recebi o aluno e dei a ele uma nova chance de fazer a prova. Passado alguns minutos ouço barulho de alguém amassando papel, quando olhei percebi que era a prova! O aluno que amassou levantou e a jogou no lixo, na minha frente, e após isso alguns o seguiram (uns três ou quatro, inclusive o que eu dei uma nova oportunidade de fazê-la), pelo barulho que eles faziam propositalmente parecia ser a sala inteira. Esta foi a segunda decepção do dia e maior de minha vida profissional, senti até vontade de chorar. Ignorar a matéria é ignorar conhecimento e aquele que o transmite.
Se eu não tivesse consciência da importância de minha missão, e encarar o magistério como um dom, largaria tudo hoje, só não o fiz por saber que todos os caminhos vão me levar à sala de aula, pelo fato de acreditar em que posso lutar para mudar um pouquinho desta lamentável e vergonhosa situação que é a educação em nosso país.
Gostaria de terminar este post com o meu lema, no momento, mais propício do que nunca:
“Enfim, fui educado para educar...”.

5 comentários:

Katia disse...

Enquanto vou lendo seu post,as imagens se formam em minha mente,aliás só as recordo pq já as vi inúmeras vezes!! e posso imaginar como está seu coração...
Tende bom ânimo!!! assim diz o SENHOR!!!

bj professor!

p.s. - dia 11/07/08,encerrará minhas aulas e como representante de turma devo levar algo p/ ler posso levar este post?me autoriza??

Professor disse...

Claro Katia!
Pode levar sim!

Obrigado pelos comentários que sempre posta aqui!

Bjo!

Adriana disse...

Compadeço de sua tristeza e dor porque vivo diariamente o mesmo. É lamentável conviver com isso. No entanto, tenho pleno sentimento de que não nasci para outra coisa, se não para lecionar...
Todos os dias me indago, o que posso fazer para reverter esse quadro de desinteresse dos meus alunos, tento novas artimanhas para abordá-los e fazê-los se "apaixonarem", como eu me apaixonei, por meio de uma professora, a beleza de saber e ter conhecimento. Todavia, percebo que nado contra uma correnteza muito forte: "um sistema educativo" falho e sem nexo.
Diante disso sinto-me cada vez mais impotente...

Unknown disse...

Passo por isso todos os dias, assumi um cargo de professor na escola pública e acreditem está sendo um inferno pra mim, venho trabalhar mesmo somente pela necessidade e pela estabilidade, esse mês estou me afastando da sala de aula, vou entrar de licença médica não suporto mais a pressão dos gestores da escola e o desrespeito dos alunos. Pretendo aproveitar o tempo da licença e começar a me preparar para outro concurso em outra área bem distante da educação.

Unknown disse...

Passo por isso todos os dias e sei exatamente a tristeza e decepção que sente, todos os dias ao acordar pra vir trabalhar eu choro, por lembrar de tudo o que vou passar na escola como professor, o desrespeito dos alunos, a pressão exercida pela gestão sobre os professores, as cobranças enfim... Tudo o que forma o inferno total que é a educação pública atual, não é a questão de não gostar do que faço, eu gostei um dia, mas fui sufocado por tudo isso, hoje aos 24 anos estou me afastando da sala de aula, entrando de licença médica devido as agressões verbais sofridas enfim... Pretendo aproveitar o tempo da licença e começar a me preparar para outro concurso, em uma área bem longe da educação.